Não acreditamos em nossos líderes
Recente artigo da neozelandesa Ngaire Woods, professora de Governança Econômica Global na Universidade de Oxford, discute aguda questão política contemporânea, com foco nos países desenvolvidos: os eleitores, claramente cansados do status quo, querem mudanças nas lideranças e nos partidos, que insistem nas arcaicas escolhas costumeiras, incapazes de entender seus anseios.
A crescente distância entre povo e partidos levou, no Reino Unido, ao fracasso do Partido Trabalhista em suas tentativas para impedir a ascenção do parlamentar ativista Jeremy Corbin, um socialista democrático, ao posto de lider do partido e da oposição. No Japão, o candidato do agremiação que está no poder, o Partido Liberal Democrático, foi fragorosamente derrotado na eleição para governador de Tóquio pela primeira mulher a galgar tal posto, Yuriko Koike, dissidente desse mesmo partido. Nos Estados Unidos a direção do Partido Republicano aceitaria qualquer de seus líderes para candidato, exceto Donald Trump, e deu no que deu. No campo democrata a candidata Hillary Clinton sofreu para bater o emergente e contestador Bernie Sanders.
Se observamos outros países veremos que o quadro não é muito diferente. Não foi semelhante o sentido dos movimentos na Tunisia, Egito, Iêmen, Líbia, Bahrein, Síria, Marrocos designados por Primavera Árabe e inicialmente deflagrados pela autoimolação de um modesto vendedor ambulante em 2010 no primeiro desses países? Ou do movimento “Indignados” na Espanha? Ou mesmo nos Estados Unidos o do “Occupy Wall Street”?
Imagem obtida na revista Cult
O quadro brasileiro é parecido. Os eleitores estão cansados. A indiferença dos grandes partidos e seus líderes e sua falta de propósito ou de competência pode ter consequências imprevisíveis. É incrível, eles não se deram conta que o mundo é outro, que houve uma mutação tecnológica e que a estafa política da população em época revolucionada pela Internet e pela comunicação sem fio tem repercussões fora do controle. Hoje, disseminada pelas redes sociais, se expressa nas vaias e na abominação à presença dos políticos nos movimentos de rua e outros eventos. Amanhã pode agravar divisões odiosas e gerar a negação da política como ciência e arte do bem comum, com o surgimento de propostas messiânicas ou alicerçadas em relações espúrias de poder, que nos condenem à desesperança. Mas pode também levar a transformações positivas, que enalteçam a política com P maiúsculo e pavimentem a trajetória para uma sociedade que poderá ser socialmente justa e ambientalmente equilibrada, sem deixar de ser eficiente.
Será que nos deixaremos levar pelo primeiro caminho, qual objeto inerte na corredeira, ou pugnaremos dia-a-dia pela construção de um futuro digno para as atuais e futuras gerações de brasileiros?
Esse será um dos temas de futuras postagens neste blog.