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Mario Eduardo Garcia

Não acreditamos em nossos líderes

Recente artigo da neozelandesa Ngaire Woods, professora de Governança Econômica Global na Universidade de Oxford, discute aguda questão política contemporânea, com foco nos países desenvolvidos: os eleitores, claramente cansados do status quo, querem mudanças nas lideranças e nos partidos, que insistem nas arcaicas escolhas costumeiras, incapazes de entender seus anseios.


A crescente distância entre povo e partidos levou, no Reino Unido, ao fracasso do Partido Trabalhista em suas tentativas para impedir a ascenção do parlamentar ativista Jeremy Corbin, um socialista democrático, ao posto de lider do partido e da oposição. No Japão, o candidato do agremiação que está no poder, o Partido Liberal Democrático, foi fragorosamente derrotado na eleição para governador de Tóquio pela primeira mulher a galgar tal posto, Yuriko Koike, dissidente desse mesmo partido. Nos Estados Unidos a direção do Partido Republicano aceitaria qualquer de seus líderes para candidato, exceto Donald Trump, e deu no que deu. No campo democrata a candidata Hillary Clinton sofreu para bater o emergente e contestador Bernie Sanders.


Se observamos outros países veremos que o quadro não é muito diferente. Não foi semelhante o sentido dos movimentos na Tunisia, Egito, Iêmen, Líbia, Bahrein, Síria, Marrocos designados por Primavera Árabe e inicialmente deflagrados pela autoimolação de um modesto vendedor ambulante em 2010 no primeiro desses países? Ou do movimento “Indignados” na Espanha? Ou mesmo nos Estados Unidos o do “Occupy Wall Street”?

Imagem obtida na revista Cult


O quadro brasileiro é parecido. Os eleitores estão cansados. A indiferença dos grandes partidos e seus líderes e sua falta de propósito ou de competência pode ter consequências imprevisíveis. É incrível, eles não se deram conta que o mundo é outro, que houve uma mutação tecnológica e que a estafa política da população em época revolucionada pela Internet e pela comunicação sem fio tem repercussões fora do controle. Hoje, disseminada pelas redes sociais, se expressa nas vaias e na abominação à presença dos políticos nos movimentos de rua e outros eventos. Amanhã pode agravar divisões odiosas e gerar a negação da política como ciência e arte do bem comum, com o surgimento de propostas messiânicas ou alicerçadas em relações espúrias de poder, que nos condenem à desesperança. Mas pode também levar a transformações positivas, que enalteçam a política com P maiúsculo e pavimentem a trajetória para uma sociedade que poderá ser socialmente justa e ambientalmente equilibrada, sem deixar de ser eficiente.


Será que nos deixaremos levar pelo primeiro caminho, qual objeto inerte na corredeira, ou pugnaremos dia-a-dia pela construção de um futuro digno para as atuais e futuras gerações de brasileiros?

Esse será um dos temas de futuras postagens neste blog.


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