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  • Mario Eduardo Garcia

As soluções de ontem são os problemas de hoje

Quando sonhamos que um dia os rios de nossas cidades estarão limpos surge logo a especulação sobre o destino das suas vias marginais. Usualmente entregues ao tráfego de veículos, às vezes até com tampas cobrindo os cursos d'água, essas artérias entupidas por carros, motocicletas e caminhões tornaram-se barreiras que impedem o usufruto das amenidades que os rios saneados poderiam proporcionar à população.


Como o tráfego é intenso, poucos acreditam que as marginais dos nossos rios urbanos possam ser no futuro vedadas aos veículos motorizados e entregues ao lazer dos habitantes, criando novos espaços de sociabilidade e de dinâmica cultural, hoje tão escassos. São empreendimentos de longo prazo, cujas medidas preparatórias consumirão anos ou décadas, portanto deveriam ser logo inscritas nos planos estratégicos das metrópoles. Propostas desse tipo não faltam, mas usualmente não passam da fase em que suas artísticas concepções são recebidas com admiração e logo esquecidas, adiando indefinidamente a abertura da trajetória para um futuro promissor.


Precisamos observar o exemplo de cidades de outros países que reconquistaram os seus rios ou estão tomando previdências concretas com esse objetivo. Um dos projetos mais conhecidos é o de Seul, que criou, no centro da cidade, um lindo parque ao longo do rio Cheonggyecheon, onde antes havia um viaduto longitudinal, com quase 6 km de extensão. Um caso mais recente, ainda em fase preparatória, poderá vir a ser o de Paris, que planeja e está iniciando testes para transformar em parque urbano um trecho de 3.200 metros da marginal direita do Sena, onde hoje circulam mais de 40 mil veículos por dia.


Fonte da imagem: The Guardian International


Um projeto desse tipo não é isento de polêmicas, que já estão ecoando entre os parisienses. Mas começa-se a reconhecer que o uso de espaços urbanos privilegiados apenas para o fluir de veículos é opção anacrônica; aquilo que em 1.960 era solução transformou-se em problema no século 21, como observado no artigo "Oui à la piétonisation des berges" de recente edição francesa do The Huffington Post.

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