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  • Mario Eduardo Garcia

Quem são os herois e heroinas brasileiros?

Essa pergunta provoca discussões, são tantos, difícil identificar os que estarão sempre presentes no imaginário da população.


Heróis um tanto esquecidos são os “pracinhas” mortos em ação da Força Expedicionária Brasileira na Italia, a gloriosa FEB da segunda guerra mundial. Herois e heroinas podem ter sido os homenageados por força de lei, inscritos no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves em Brasília. Eles se contam às dezenas, desde os que já foram assim formalizados até os apenas propostos, aguardando trâmites burocráticos ou legislativos. Heroi foi Tiradentes, talvez o único consenso nacional e o único reverenciado no calendário. Embora seja símbolo poderoso, o martir solitário da Inconfidência é personagem não bem conhecida, cuja iconografia parece ter sido laboriosamente construída após a proclamação da República.


Dois nomes vêm à memória na busca pelos que mereceriam status semelhante ao de Tiradentes. Personalidades marcantes, com trajetória na cena brasileira fartamente documentada, por suas posições ou realizações. Refiro-me a Frei Caneca e ao Marechal Rondon. São vultos emblemáticos que, por diferentes razões, valeria a pena rememorar e cultuar. Quem sabe o 21 de abril se tornasse o Dia dos Herois e Heroinas.


Neste post fazemos uma breve referência a Frei Caneca, para encaminhar um poderoso documento de sua autoria. Em post futuro abordaremos a carismática figura de Rondon.

 

A família do jovem Joaquim do Amor Divino Rabelo, nascido em Recife em 1779, era de posses modestas. O pai trabalhava na fabricação de toneis e canecas, o que explica a alcunha de Caneca, depois adotada por ele próprio. Ordenou-se frade na ordem dos Carmelitas muito moço, onde adquiriu o grau de leitor em retórica e geometria.


Aliando um sentido agudo de patriotismo à sua erudita formação intelectual Caneca participou da fracassada revolução nordestina de 1817, irradiada a partir de Pernambuco. Alimentada pelos ideais iluministas trazidos da Europa por estudantes e religiosos que lá estagiavam, a insurreição lutava por independência do jugo da Coroa portuguesa e por um governo regional de base constitucional.


Após quatro anos de dura prisão ele retorna à militância em um período de comoção política – entre 1821 e 1824. Após a proclamação da independência, no período em que se discutia a reconstrução nacional, Frei Caneca, depois de renegar um regime absolutista e batalhar por uma monarquia constitucional federativa, de fundo democrático, se volta contra a iniciativa imperial de formular, monocraticamente, de cima para baixo, uma proposta de Constituição e exigir o seu endosso pelos governos locais.


As teses de Caneca – substrato ideológico de nova revolução, a Confederação do Equador –, fundadas na premissa do pacto social, estão documentadas em numerosos textos e em matérias jornalísticas de sua autoria. Desse cabedal extraímos o seu contundente “Voto sobre o juramento do projeto de Constituição oferecido por D. Pedro I”, de 6 de junho de 1824, que está reproduzido em página própria deste site, aqui. É um tanto longo (cerca de 20 minutos de leitura) mas vale a pena conhecer e, talvez, tentar discernir possíveis analogias com o Brasil de nossos dias.


Esmagada a Confederação do Equador, Frei Caneca foi preso e depois fuzilado em Recife, no dia 13 de janeiro de 1825.

 

Imagem: Antonio Parreiras, O julgamento de Frei Caneca


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