top of page

MINHA CRENÇA POLÍTICA

Sonho com uma sociedade que realize o ideal de justiça e de liberdade. Que não discrimine por motivo de sexo, raça, religião. Que liberte os que trabalham, empregados e patrões, quando submetidos a situações não dignas ou que os impeçam de produzir. Que permita a ascensão dos que hoje são obrigados a labutar na economia informal, repudiados por preconceitos. E que seja eficiente e moderna.



Estou certo de que muitos subscreveriam essa declaração. Mas como alcançar esse ideal? Como ensinava Norberto Bobbio, só há dois caminhos, o voto ou a força. Escolhida a alternativa do voto – cuja regra básica é a da maioria –, surgem novas divergências. É normal, próprio da democracia, que aceita a dissonância.

É necessário multiplicar a produção e o crescimento e partilhar de forma mais equitativa os frutos do progresso. Isso pode ser feito sem abolir as diferenças entre classes nem socializar o sistema produtivo. A doutrina política que abre o caminho para o projeto de sociedade que almejo não é o liberalismo econômico nem o socialismo estatal. Chama-se social democracia, a autêntica, não a assim batizada na política brasileira.

 

Em suas origens a social democracia defendia os interesses de uma classe, os trabalhadores empregados. Houve uma ruptura no Congresso de Bad Godesberg em 1959, do partido social democrata alemão (SPD): a nova social democracia reconhece que o mercado é o motor do crescimento, mas concentra a renda. Cabe ao Estado prover as condições para que as empresas produzam sem entraves e os resultados sejam melhor distribuídos. 

 

A partir daí, enquanto o socialismo estatal "patinava" na Rússia e seus satélites e o capitalismo avançava nos EUA mas também criava uma sociedade desigual, nascia e crescia na Europa a nova social democracia, tendo sido uma das alavancas do desenvolvimento do continente na segunda metade do século XX. Foram os 30 anos europeus gloriosos do pós guerra. A nova social democracia rejeita a mudança pela força, pois sua proposta foi sintetizada por “liberdade política / menor desigualdade social / crescimento econômico / sucesso do mercado”. A fórmula parece simples, mas na prática é outra conversa, porque ninguém – trabalho e capital – quer perder posições. Há necessidade de muita luta, sindicatos fortes, autênticos e sem peleguismo e discussão, pressão, convencimento, para se chegar a um acordo social. Capital e trabalho reconhecendo suas diferenças mas se dispondo a trabalhar juntos não sempre, mas por um projeto com início, meio e fim. Uma vitória, ainda que temporária, sobre o dogma da inevitabilidade da luta de classes.



Suécia (com Olof Palme) e os outros países nórdicos, Austria (Bruno Kreisky), Alemanha (Willy Brandt e Helmut Schmidt),  Espanha (Felipe Gonzalez enquanto secretario geral do PSOE), Inglaterra e outros países adotaram o novo modelo social democrata e, embora com altos e baixos, progrediram nesse regime, até cerca de 1980. Desde então a reforma neoliberal da dupla Margaret Tatcher e Reagan trouxe uma inflexão com resultados conhecidos, até o início do século XXI: redução dos postos de trabalho, dos salários, dos gastos sociais e da segurança dos trabalhadores, acompanhados por concentração e centralização do capital e da renda em muitos países. Contaminou inclusive os regimes europeus ditos social democratas. O resto já é dos nossos dias: a crise do modelo liberal se acentua e explode em 2008/2009, com consequências desastrosas para alguns países europeus e em medida menor nos EUA, e espalhando repercussões planetárias. 

 

A China, um caso à parte, adotou com sucesso, desde Deng Xiaoping em 1978, um modelo industrial de capitalismo com controles, aproximando-se no plano econômico da social democracia. Mas não há liberdade política.

 

O Brasil atravessou todo o século XX no regime capitalista. Embora tenha usufruido de contínuo crescimento entre 1930 e1980, ostentando taxas exuberantes, a concentração de renda foi brutal, colocando o país na situação degradante de uma das sociedades mais injustas do planeta. Não há pior corrupção do que essa, com transferência de renda da base para o topo, maciça, subterrânea, contínua, não alardeada nos meios de comunicação, submetida à conspiração do silêncio. Os custos sociais foram incalculáveis. Alguns tímidos movimentos para mudar essa sina terminaram com os presidentes emparedados ou depostos, como Getúlio Vargas em 1954 e Jango Goulart em 1964. 

 

Precisamos refletir sobre essas questões de fundo, para fundamentar nossas ações.

 

Um capitalismo humanizado não desconhecerá os princípios da solidariedade social, antes neles se assentará. Esse caminho exclui, de um lado, o liberalismo econômico individualista e, de outro, a socialização dos meios de produção. Sua concepção é de que o capital não deve ser apenas um instrumento produtor de lucro, mas, principalmente, um meio de expansão econômica e de bem-estar coletivo.

bottom of page