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  • marioeduardogarcia

A economia não é uma ciência exata


Na discussão brasileira sobre arcabouço fiscal, resultado primário e seus desdobramentos, não são poucos os que reverenciam o receituário “economizar para pagar a dívida” e depois crescer, como a regra de ouro da economia. Nessa linha, o assim chamado “mercado” financeiro estremece e irradia inquietação país adentro, quando a proposta de um superavit de 0,5% é modificada para zero, para o próximo ano.


Nós, leigos, somos alertados por alguns de que a finança pública é como a finança doméstica. Se gastamos mais do que ganhamos logo estaremos insolventes.


Entretanto, não é necessariamente assim, pois não existe acordo entre os economistas sobre a validade dessa comparação, nem sobre importantes postulados macroeconômicos. Por exemplo, Paul Krugman, Prêmio Nobel de economia, escreveu em sua coluna do New York Times em 2019 que “uma economia não é como uma família, cujo rendimento e despesa são coisas separadas. Na economia como um todo, os meus gastos são os seus rendimentos e os seus gastos são os meus rendimentos.” Numa economia em depressão ou estagnada, se ninguém gasta, ninguém ganha, diz ele, só o governo pode trazer um estímulo, via investimento público.


A necessidade de abrir o debate sobre essas matérias controversas e de oxigenar rumos levou o Fundo Monetário Internacional, na edição mais recente (março) de sua publicação Finance & Development, a ouvir seis economistas sobre o tema Beyond Efficiency: a more Human Economics. A matéria abre com Angus Deaton, também Prêmio Nobel de Economia. Segue um resumo de seu artigo, Rethinking My Economics.


O autor realiza uma profunda reavaliação dos princípios econômicos. Reflete sobre como as suas perspectivas evoluíram ao longo de cinco décadas, questionando muitos dos princípios fundamentais da economia mainstream como praticada ontem e hoje.


Argumenta que a profissão econômica enfatizou excessivamente a eficiência dos mercados, negligenciando os impactos significativos das dinâmicas de poder, justiça social e considerações éticas nas decisões econômicas. Aponta que os modelos econômicos tradicionais muitas vezes ignoraram como o poder molda os resultados econômicos, levando a desigualdades. Esse descuido é em parte devido ao foco da profissão em abordagens tecnocráticas e voltadas para a eficiência, em vez de um bem-estar humano mais amplo e considerações éticas.

 

Além disso, Deaton critica o estado atual da educação econômica, que muitas vezes deixa de discutir as bases filosóficas e éticas do pensamento econômico. Ele pede uma reintegração desses elementos para melhor entender o que constitui bem-estar humano, além das métricas financeiras.

 

Deaton também reconsidera suas visões sobre várias questões específicas, incluindo sindicatos, livre comércio e imigração, sugerindo que suas crenças passadas podem ter ignorado as implicações sociais mais amplas desses fenômenos. Defende uma visão mais equilibrada que reconheça tanto os benefícios quanto os custos de tais fatores econômicos, particularmente em como afetam a desigualdade e a coesão social.

 

Essa abordagem introspectiva sinaliza um apelo mais amplo para reexaminar e possivelmente revisar suposições de longa data, especialmente à luz das recentes crises econômicas e desafios globais, que expuseram algumas das sérias limitações dos frameworks econômicos existentes.



Imagem acima gerada com o ChatGPT



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