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2026 está chegando

  • Foto do escritor: marioeduardogarcia
    marioeduardogarcia
  • 21 de jun.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 22 de jun.

Figura criada com IA
Figura criada com IA

Carlo Rosselli (1899–1937) foi um intelectual, militante antifascista e teórico político italiano, fundador de uma corrente que buscou integrar os valores da liberdade individual com a justiça social, em um projeto democrático e pluralista. Assassinado pelo regime fascista, tornou-se referência ética e intelectual para a esquerda democrática europeia.


Sua herança doutrinária fundamentou, anos à frente, uma das tentativas mais ousadas e lúcidas de conciliar Estado e mercado com observância de princípios caros à cidadania. Seu projeto, designado por “Socialismo Liberal”, formulado na década de 1930, antecipou um caminho alternativo ao dilema histórico que então parecia insolúvel: de um lado, a rigidez autoritária dos regimes comunistas; de outro, o individualismo excludente do liberalismo econômico clássico. Rosselli defendia que a democracia política deveria ser não apenas preservada, mas radicalizada, incorporando a dimensão econômica aos destinos de todos.Para ele, o socialismo não era sinônimo de coletivismo autoritário, mas o prolongamento da luta por liberdades — agora ampliadas para os campos social e econômico. Sua proposta previa uma economia mista com estatização seletiva de setores estratégicos, uma democracia pluralista robusta e, como instrumentos essenciais de mobilização popular, sindicatos livres, representativos e independentes, que expressassem, de forma genuína, os interesses das suas bases.


No pós-guerra, muitos dos princípios formulados por Rosselli ganharam expressão concreta nas experiências das social-democracias europeias. As décadas que ficaram conhecidas como os "trente glorieuses" (1945-1975) na Europa Ocidental marcaram a consolidação de Estados de bem-estar social, que equilibravam crescimento econômico, ampliação de direitos sociais e manutenção das liberdades civis e políticas. Na Escandinávia, particularmente, governos de orientação social-democrata implementaram políticas de redistribuição de renda e regulação dos mercados de infraestrutura, materializando, cada um a seu modo, o ideal de uma social-democracia pluralista e economicamente produtiva.


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O Socialismo Liberal poderá ajudar a fundamentar uma proposta ao Brasil em 2026, por conter princípios morais e potencial social e econômico capazes de direcionar a Nação para o elevado destino que os seus filhos merecem. O legado histórico, entretanto, deverá ser reinterpretado, para levar em conta as transformações ocorridas a partir das últimas décadas do século XX, que modificaram o terreno em que se deram as conquistas acima descritas, transferindo a batalha pela hegemonia política para um novo palco.


A globalização econômica, acompanhada por precarização das relações laborais e ascensão de novas formas de emprego, como o trabalho por aplicativos, minaram a base histórica de sustentação dos sindicatos. Além disso, o campo de disputa política, que antes se concentrava em instituições formais e canais organizados de representação, migrou para o espaço digital, onde as mídias sociais se tornaram o novo terreno do embate ideológico e formação da opinião pública. Hoje, trata-se de disputar narrativas e influenciar algoritmos nesse espaço, enfrentando a fragmentação da opinião pública e a velocidade das desinformações. E de renovar a gramática política, para integrar as formas tradicionais de organização coletiva com as novas linguagens de comunicação digital.


A mutação tecnológica, que vai da automação industrial à inteligência artificial e à manipulação algorítmica da informação, exige a atualização da agenda de justiça social, para capacitá-la também à proteção contra a exclusão digital e a desinformação em massa. Simultaneamente, a transição energética e o enfrentamento das mudanças climáticas impõem a adoção de políticas públicas com capacidade de investir e regular setores estratégicos, garantindo uma agenda ambiental que não aprofunde as desigualdades. Por fim, a busca dos novos objetivos não pode prescindir de um compromisso realista com a eficiência econômica: a produtividade e a inovação tecnológica continuam a ser pré-condições indispensáveis para a viabilidade de qualquer projeto de transformação social duradoura.


Essa proposta para o Brasil responderá aos que julgam que não há mais espaço para a autêntica social-democracia nos dias de hoje; eles desconhecem que, pelo contrário, o drama político e social contemporâneo teve início quando essa corrente foi alijada da cena política mundial, nos anos 1980. A fragilidade das políticas redistributivas, a erosão dos direitos trabalhistas e a precarização das condições de vida não resultam de um excesso de social-democracia, mas de seu progressivo desaparecimento, como força estruturante das democracias modernas.


Assim, o projeto de um socialismo liberal renovado — ou de uma social-democracia reconfigurada para o século XXI — exigirá uma tripla frente de atuação. Por um lado, revitalizar os instrumentos clássicos de representação e mobilização da classe trabalhadora, ajustados à nova realidade do mundo do emprego. Por outro, desenvolver uma presença consistente e criativa nas mídias sociais, para recuperar a capacidade de incidir de forma ética no imaginário coletivo e construir consensos socialmente legítimos. E, por fim, incorporar os novos imperativos da transição ecológica, do salto quântico da tecnologia e da eficiência produtiva. Apenas por meio dessa combinação, será possível atualizar e dar continuidade ao ideal histórico que Carlo Rosselli, com impressionante antecipação, formulou como a síntese possível entre liberdade e igualdade.

 
 
 

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